sábado, 7 de dezembro de 2013

A saga do Papel Higiênico! Para cima ou para baixo?

Pequenas coisas são capazes de nos irritar, ainda que de forma muito singela, porém, a constância com que se repetem podem levar a um incômodo maior. A senhora que arruma meu apartamento, o faz sempre que não estou em casa. Ela tem a chave e, normalmente, quando saio de casa para trabalhar, ela ainda não chegou e, quando volto, ela já se foi. Raramente a encontro e, quando isso acontece, eu não me lembro de falar com ela sobre o danado do papel higiênico. Mas o que isso muda na minha vida? Absolutamente nada, mas o desconforto é inevitável. A questão é: o papel higiênico deve ser colocado com a ponta para frente ou para trás? 

Trata-se de uma questão simples, mas parece que estamos em guerra, a faxineira e eu!!!! Apensar da inutilidade do debate, fui buscar uma explicação lógica para a questão. Não se trata de falta do que fazer, mas sim de satisfazer um questionamento que envolve um curiosidade extrema. E extremamente boba.
Fiquei satisfeito em saber já foram elaboradas pesquisas sobre o assunto e que cerca de 60% das pessoas preferem o papel com a ponta para frente, já o restante o prefere para trás.

Minha felicidade na verdade tem um fundo de cientificidade. Sempre busquei praticar atos rotineiros de forma mais eficiente e buscando melhores resultados...rsrsrs Certo é que sempre imaginei ser mais lógico e prático puxar o papel higiênico quando colocado para a frente.

Mas o mais interessante é que descobri que esse simples ato, por vezes é utilizado como fomentador de debates em que se busca a valorização da arte de argumentar. Ou seja, o assunto, apesar de não ser algo capaz de mudar a vida da humanidade, é utilizado cientificamente por professores em suas aulas com a finalidade estimular seus alunos a argumentarem de forma lógica, levando em consideração uma série de fatores, chegando a conclusões interessantes, quanto a questões de ordem social, inclusive.

Assim, não obstante não exista certo e errado para esse questionamento, continuo achando que é mais prática e lógica a colocação do papel higiênico para frente. E você, o que pensa sobre o assunto?

sábado, 2 de novembro de 2013

O avô do funk ostentação

As tendências musicais variam ao sabor do vento. Dentre as inúmeras tendências musicais que se destacam atualmente está a que inspira o "Funk Ostentação". Trata-se de músicas elaboradas com a intenção de demostrar um poderio econômico, muitas vezes relacionados ao ritual de conquista de uma garota, "as novinhas"!!!! Mas essa tendência não está presente somente no funk. O sertanejo universitário e outros estilos passaram a ter pitadas de ostentação. Se fala muito em carros de valor expressivo, conta bancária, cartão de crédito, tudo isso aliado ao "se eu te pegar"!!!


Muitos dizem: "as músicas do passado e que tinham letras".... "eram lindas, não se comparam às porcarias de hoje!"  Concordo em parte. As músicas de outrora tinham um apelo mais sentimental e com palavras escolhidas a dedo para amoldá-las à cultura da época. Porém, é necessário fazer uma observação. Até as belas músicas do passado de interpretes "cultos" já utilizavam a ostentação de forma clara. Então, cuidado! Você pode estar ficando velho... Muita coisa mudou realmente, mas boa parte da mudança está relacionada apenas à forma de expressar, pois o conteúdo guarda relação com o que se pretendia dizer antigamente.
Vamos aos exemplos:
Erasmo e Roberto Carlos também falavam de carrões da época para atrair as "mil garotas que queriam passear com eles", concorda?
Nem as singelas e românticas músicas bucólicas escapavam da pitada de ostentação... o apelo econômico sempre esteve presente nos mais variados estilos. Vejamos a despretensiosa musiquinha do Sérgio Reis, "Você vai gostar: 
Portanto, apesar de não me afeiçoar ao funk ostentação, a herança vem das mais bonitinhas músicas do passado que a elite cultural musical ressalta de forma saudosista.


Quando for dia de festa 

Você veste o seu vestido de algodão 

Quebro meu chapéu na testa 

Para arrematar as coisas do leilão 



Não era necessário falar de carrão, bastava apenas dizer que iria arrematar as coisas do leilão para cortejar economicamente a donzela.


Um breve post para refletir... só isso!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Relojoeiro

Trabalho nesse ofício já há algum tempo. Posso te dizer que já me acostumei com a rotina de ser um relojoeiro. Pequenos consertos, rápidos ajustes, e pessoas sem paciência pela feitura do meu serviço. Não que me considere lento para o trabalho. Mas meus clientes não prestam muita atenção ao tempo que dedicam a suas tarefas. Inclusive a de se consertar o próprio relógio, instrumento que indica o tempo ainda restante. Tempo de suas vidas.
Já estou perto de me aposentar. Tenho 61 anos, dos quais quarenta foram dedicados a ajustar mecanismos de relógio. Uma vez ou outra troco pulseiras. Umas mais apertadas e outras mais frouxas. Mas na maior parte do tempo estou consertando pequenas engrenagens, detalhes mínimos, mas que fazem ajustar o tempo do relógio. E, claro, da pessoa dono dele.
Meus clientes nunca prestam atenção em mim. Sempre chegam, dizem o problema, sem saber exatamente o que é, e me perguntam.

-         Vai demorar muito?

Olham para mim como se eu fosse responsável pela perda de tempo que terá ao não ter o relógio funcionando. Perdem sempre seu tempo. Lamentam por isso. Mas, tardiamente, lembram-se de consertar o relógio. O que poderiam fazer com esse tempo perdido, me pergunto.
Muitas coisas...
Apesar dos meus clientes não prestarem atenção em mim, eu estou sempre atento à conversa deles. Sempre tento entender a razão do problema, pois sempre tem um, e me coloco a disposição, ao menos em pensamento, para solucionar o problema. Eu ouço:

-         Poderia ter voltado atrás e aceito o pedido de desculpas. Seria tudo diferente.

É a lamentação que mais ouço em minha oficina. Tão fácil aceitar um pedido de desculpas. Difícil é pedir desculpas. Mas é um momento único em nossas vidas. Alguém virar para você e pedir desculpas. Qual o mal em aceitá-las? O orgulho de se fazer entender que está certo? Só isso. Vale a pena sempre estar certo? O que seria mais valioso, então. A certeza a respeito de algum assunto ou a humildade da pessoa que pede desculpas?

-         Eu aceito as desculpas! – pensei em interromper a fala dos meus clientes dizendo isto.

Mas não faria a menor diferença. Como eu disse, as pessoas não prestam atenção em mim. Apenas vem com seus relógios, atrasados, querendo que eu conserte o tempo deles. Mas o tempo se foi. O relógio não volta atrás.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Muito prazer, meu nome é Otário!


Mais uma vez venho aqui falar de política. Não que não goste do assunto. Tema também relacionado à filosofia, a ciência política me atraí. Passar pelas leituras de Hobbes, Maquiavel, Rousseau e Montesquieu para mim é um deleite. Mas estou no Brasil. E sendo assim, muito prazer. Meu nome é Otário.
Por que o radicalismo, perguntaria você, leitor. Desavisado que está, suponho, acredita ainda num país de faz de conta, de promessas não pagas de um lado (governo) e pagadores de promessas do outro (nós, os governados). Mas vou contextualizar para você. Tenha paciência e logo logo entenderá. Compreenderá que não há mais o que ser feito. São palavras e não ações. Dito isso, vamos a compreensão.
O tamanho da minha indignação é a mesma medida que se estabelece ao caso do mensalão. Tantos anos de corrupção, de projetos de lei aprovados na base da propina. Tantos anos de investigação, em várias CPIs, ineficientes, procrastinadoras, verdadeiras novelas mexicanas. Ou melhor, novelas brasileiras, de tão péssimo gosto que tem ainda um odioso Supremo Tribunal Federal, possuidor de uma longínqua dialética, onde falou-se de tudo e de todos. Mas não decidiram nada de fato. Decidiram sim, verdade, utilizando os mais comezinhos argumentos jurídicos apenas para dizer o quão a casa é justa. Decidiram aceitar mais um recurso dos mensaleiros.Um insólito embargos infringentes.
Para quem confunde embargos infringentes com algum produto de limpeza pode ficar tranquilo. É isto mesmo. Só que é um detergente especial ou, melhor, extraordinário. Limpa não só a gordura, mas todas as canalhices que o ser humano possa cometer e ainda lhe dá um título. O de injustiçado.
Você vai ver e ouvir esse discurso em 2014. Não sou profeta, mas apenas um leitor mais atento ao que acontece aí fora. Os mensaleiros tornarão, mais uma vez, parlamentares, ou homens do Poder Executivo, que aparecem em sua TV dizendo que o Brasil vai pra frente. Pra frente do Haiti!
Muitos dirão que nosso Supremo Tribunal agiu de modo correto, garantiu a Constituição. Muito bem, até pode ser, que os dragões não sejam moinhos de vento. Mas fornada está pronta e a pizza servida. Muito prazer, você também é Otário.
E aí vejo que Dom Quixote, obra que agora estou lendo, não é muito diferente de nós, brasileiros. Enquanto o cavaleiro de La Mancha enfrenta, em seus delírios, inimigos imaginários, nosso povo vão às ruas acreditando que se está fazendo revolução. E até temos um amigo que nos dá apoio, como Sancho Pança o faz em relação a Quixote. Nossa amiga imprensa, que aplaude os manifestos sem dizer o que realmente se deseja no meio do montim. Nós, O Povo Brasileiro, que acredita ser um bando de Che Guevara, mas que desce do cavalo apenas de quatro em quatro anos. Não quando há eleições e nem aumentos de vinte centavos na tarifa de ônibus. Mas quando há Copa das Confederações no Brasil e câmeras no padrão FIFA. Aparecemos quebrando vidraça de banco, pichando os muros da cidade e ateando fogo em ônibus e lixeiras. Não escrevemos um manifesto e nem votamos nas pessoas certas. Acreditamos que tudo vai mudar, que o Brasil é o 24º país mais feliz do mundo e o que vale a pena é ser Hexa Campeão do mundo, sendo o Neymar o melhor da copa, tudo mais não importa. O sabor da pizza também pouco importa. Já se vão mais de oito anos sem nada acontecer em relação aos mensaleiros. E vai acontecer?

Muito prazer, seu nome é Otário.

Jardineiro - parte final.

E o vento continuava, ainda mais forte. Como que causando confusão e temor àquela casa. Fechei bem a porta e a janela, apesar do vidro, que deixava alguma força soprar dentro do apartamento. O Visitante saiu da janela e sentou-se a mesa. Minha mãe ainda continuava lá, mas já apreensiva por causa do vento.
Não era um vento normal.
Tentei acalmar os dois naquele momento. Os dois ficaram juntos, um tentando acalmar o outro. Eu tentava entender por que tanto vento. A força era imensa que causava um som aterrorizante. Fiquei meio confuso, pois, não sabia o que faria. Se sentava a mesa e me juntava a minha mãe e o Visitante, ou se dava conta de fechar todas as aberturas da casa para que não houvesse mais vento.
Mas a porta foi tocada.
Minha mãe ficou mais uma vez surpresa. Não havia tantas pessoas a visitarem nossa casa nos últimos tempos. Este Visitante, na verdade, era o primeiro. Mas aquela noite estava especial. Curiosamente especial. Fui até a porta para abrir. Minha mãe e o Visitante ansiosos por ver quem era. Abri a porta.

-         Você tem que sair agora dessa casa. – disse a mulher que estava a porta.
-         Mas Mulher meu lugar é aqui. Esperei todo esse tempo para aquilo que vê na mesa. Era o que mais eu desejava. E hoje pude fazer isso.
-         O Visitante fica. Não será mais Visitante. Há muito tempo se tornou um hóspede. Você deve voltar!

Nesse momento começou a chover. Caía uma tempestade como muito tempo eu não via. O vento continuava. Aquela mulher ali na porta dizendo para eu sair de casa. E a chuva caía torrencialmente. Meu pensamento estava confuso e me sentia um pouco tonto. Eu sempre esperei uma visita na minha casa. E essa visita tinha muito tempo que eu não via. Desejei desde a última vez que eu o vi. E antes de vê-lo, desejei ainda mais sentá-lo aquela mesa junto à mulher, que preparava meu alimento. Não tem mais nada a se fazer lá fora. Tudo está feito. É meu momento agora. Ficar em casa.

-         Não. Seu momento é lá fora. Sou sua mãe também. Vi você ainda criança e, por muito tempo, você freqüentou minha casa. Tenho esse direito. Foi difícil chegar até aqui. Mas você deve obediência a mim. Não por obrigação. Mas por carinho. É meu filho também.

Reconheci aquele rosto. Por muito tempo eu o vi. Sua luta em cuidar de um ser humano foi honrosa. A mesa da casa dela não era grande. E às vezes ela ia, junto com seu filho, para outras casas. Para outras mesas. Não me sentia obrigado. Mas me sentia comovido. Era mais forte do que eu. Não era uma questão de obediência. Era afeto. Mas...

-         Eu quero ficar. Já cuidei do Jardim. Ele está pronto. O Fruto Distante caiu e semeou. A Graxa revitalizou-se e ficou forte. A Flor Delicada tornou-se um Jardim, de muitas outras flores. O Jardineiro de um Pinheiro Só agora tem um bosque. Minha presença não faz mais sentido.

Desceu uma lágrima em mim. Não era um Visitante. Era meu pai. Não era uma Árvore Grande. Era minha mãe. Não era uma mesa. Era minha família. Minha vida estava ali. Não queria voltar.
Nesse momento, o Visitante levantou-se da mesa e juntou-se a Mulher à Porta. E ele, com toda a compreensão do que estava acontecendo, mais uma vez abriu mão do que sentia.

-         Filho, você deve voltar. Não seja teimoso como eu fui. Outro dia vamos nos ver. Aliás, toda a noite estarei na janela. E você sabe como eu gosto de janela. Volte. Escute sua segunda mãe. Você tem uma mesa lá fora. E isso sempre foi seu desejo. Ter sua própria mesa.
-         Quero ficar com você, Pai. É você e minha mãe na mesa. Quero ficar.
-         Também quero meu filho. Entendi isso muito tempo depois. Nunca fui só. Sempre foi nós dois. Mas sou seu Pai. Deve ir.

O telefone tocou. Tocou forte. Ventava forte também e a chuva tinha aumentado. Não parava de tocar o telefone e estava ficando estridente. Eu estava na porta junto com a Mulher que me visitava. Minha mãe ainda sentada à mesa. Meu Pai na janela apontando para o telefone e dizendo.

-         Atenda!

Agora chovia em mim. Eu chorava muito, meu peito estava apertado. A Mulher à Porta também chorava. Minha mãe saiu da mesa e foi para o quarto. Meu Pai, a minha frente, encorajou-me a atender o telefone, que não tocava, gritava. Fui caminhando lentamente. Meus passos eram cambaleantes. Não conseguia entender mais as palavras devido ao alto som do telefone. Minha visão foi ficando turva. Senti-me tonto. E quando ia pegar o telefone para atendê-lo, senti meu corpo pesado.
Caí.
Parecia ter batido a cabeça forte. Ainda não tinha aberto os olhos. Mas já conseguia ouvir alguma coisa. Um choro e um grito de mulher. Conhecia aquela voz. E isso me fez ter forças para abrir os olhos e ver mais uma vez o rosto de minha esposa. Quando abri os olhos, uma outra voz soou naquele quarto de hospital.

-         Graças a Deus! Ele acordou.

Vi meu velho amigo de infância ali na minha frente. Vi também meu corpo cheio de tubos e soros. Estava deitado em um quarto de hospital, na UTI. Minha mente estava confusa. Não conseguia falar direito. Minha esposa chorava e pulou na cama, me abraçando. As enfermeiras disseram para ter cuidado, porque foram quarenta dias de coma, e eu já tinha uma idade avançada. Vi minha irmã também. Havia voltado do exterior, junto com seu marido. Vi dois homens grandes e bonitos também a minha frente. Não entendi direito o que eles falavam, mas pareciam dizer. Melhor, pareciam gritar.

-Pai!

Eram meus filhos. Dois filhos que abraçavam a mãe que tinha sofrido muito nesses dias. Eu ainda estava confuso. Minha mente não conseguia se organizar. Eu tinha acabado de acordar de um coma. Não conseguia mover minhas pernas, mas sentia força nos braços. Mas me sentia melhor. Era minha família ali. Mas estava faltando alguma coisa. Mesmo não sabendo naquele momento exatamente o que era, meu coração dizia que faltava alguma coisa. Eu lembrava do apartamento. Do Jardim. Dos meus pais. Da Mulher à Porta dizendo para ir embora. De tudo isso. E aqui no hospital, minha esposa, minha irmã, meu amigo e meus filhos ajudavam a lembrar de algo. Mas eu não poderia esquecer.

-         Pai, graças a Deus você voltou à vida. Tome isso aqui. É seu presente!

Uma linda mulher dizia ser minha filha. Era minha filha. Ela havia acabado de entrar no quarto. Meu velho amigo de infância havia telefonado para ela dando a notícia. E eis o presente que ela trouxe.

-         Pai, seu pinheiro. Ele é seu.

Era um pequeno pinheiro. Chorei sem saber exatamente o motivo. Minha esposa caiu mais uma vez em prantos por não entender por que eu chorava. Meu velho amigo de infância não agüentou também. Minha irmã, meu cunhado, meus outros dois filhos, todos ali no quarto de hospital, na UTI, choraram. E eu gostei do pinheiro. Mas não entendi por que o pinheiro. Fiquei curioso. Emocionado. Perguntei a minha filha.

-         Por que você me deu um pinheiro?

Todos pareciam entender porque minha filha me deu um pinheiro. E eu fiquei ainda mais curioso. Mas tudo foi revelado quando minha esposa, calmamente, foi em direção à janela do quarto e abriu a cortina. E aí eu vi. Entendi.

-         Era um Jardim lá fora.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Jardineiro

Não poderia ver o Jardineiro. Ele foi se deitar. Também não compreenderia, por mais que tentasse passar a mensagem. O estado do Visitante ainda era precário. Muita confusão em seu pensamento. Não poderia ver.
Mas me senti tocado pelo Visitante. Foi uma luta chegar até ali na porta e bater à porta. Sentia que minha mãe também pensava a mesma coisa a respeito. E quando ocorre algo semelhante, volto-me para a janela e lanço mais sementes, como conforto.
Não poderia ver.
A mesa estava posta e convenci o Visitante a sentar-se. Ainda persistia no pedido, mas eu não poderia de imediato dizer a ele que era pouco provável ver o Jardineiro. Isso dizendo parcialmente a verdade.
Não há Jardineiro.
Mas todos vêem o que querem ver. Minha mãe sabia disso. Mas eu era tocado a dizer a verdade. E aquele Visitante estava ansioso por ver o Jardineiro, este que não poderia ver e não havia mais.
O Jardineiro foi se deitar.
Quando se sentou a mesa o Visitante, minha mãe chegou próximo a ele e lhe mostrou algo. Fiquei curioso, mas não ousei perguntar, pois confiava em minha mãe. Entretanto, suspeitava do que fora e a interpelei dizendo:

-         Não faça isso, mulher.
-         Filho, será necessário.
-         Não faça.

Pouco adiantou meus pedidos para que não fizesse aquilo. Minha mãe mostrou a ele uma fotografia do Jardineiro. Uma fotografia minha observando o Jardineiro. O Visitante logo entendeu e foi em direção a janela. Nesse momento, pensei que o Visitante iria cair em razão de tanta euforia em querer ver o Jardineiro. Mas não foi isso que aconteceu.
Na janela, o Visitante não conseguiu ver o Jardim. Não havia a Graxa, a Árvore Grande, o Fruto Distante, a Flor Delicada, nem viu mesmo o Jardineiro e seu amigo, o Jardineiro de Um Pinheiro Só. Pensei que, por um momento, o Visitante ficaria frustrado. Mas não foi isso que ocorreu. Vi uma alegria em seu ser. Um alento. Talvez uma justificativa para ele mesmo de tudo o que aconteceu.
Ele viu uma criança.
Essa criança corria e corria. Brincava onde era o Jardim. Ria de qualquer coisa sem algum motivo. Ele não reconheceu o rosto da criança. Mas sentiu uma afinidade por ela.
O Visitante gostava de criança.
Em meio à brincadeira daquela criança, o Visitante viu uma mulher, que brincava e repreendia a criança ao mesmo tempo. O Visitante quando viu a mulher ficou aliviado. Parecia tê-la reconhecido. Especialmente quando outra mulher apareceu e gritou, chamando pela criança.

-         Venha, sou sua Tia.

Quando o Visitante viu a Tia uma lágrima desceu. E ele começou a entender ainda mais o que estava lá fora. Nem me perguntou algo. Sentia-se saber de tudo. Foi revelado.

-         Mas onde está o Jardineiro? – perguntou o Visitante.

Não respondi. Qualquer palavra minha faria confusão ao seu pensamento. Eu sentia que ele compreendia tudo. Minha mãe, sem falar comigo, também percebeu meu pensamento. E para que explicação? Ele via. Sentia. Compreendia. Palavras, às vezes, causa confusão.

-         Por isso a fotografia, Mãe?
-         Sim, por isso a fotografia.

E o Visitante ficou um bom tempo na Janela, vendo o Jardim que não mais existia. Estava lá a criança e duas mulheres. Não se cansou de ver. Renovou-se com isso. Deixei-o ali e fui até minha mãe. Conversei com ela a respeito e assim concordei.
O Visitante será meu hóspede por algum tempo.
Isto tudo foi de noite, mas quando o Visitante viu a criança já era alvorada. E nesse momento, não raramente, ventou em minha casa. Minha mãe também estranhou o fenômeno, mas, imediatamente, ordenou que eu voltasse a observar o Jardim. O Visitante viu uma criança e uma só das mulheres. Eu não via o Jardineiro.
Naquele dia o Jardineiro não retornou.





Fiz dois gols. Posso ir para Seleção?

Essa pergunta deve estar no pensamento de Ronaldinho Gaúcho. Na última quarta-feira, R10 fez dois golaços de falta contra o Fluminense pelo Campeonato Brasileiro. E eis a questão: os dois gols que o craque do Galo fez o habilita a Seleção Brasileira?
Na visão de Luiz Felipe Scolari sim, pois, foi este o critério da convocação de Alexandre Pato, jogador do Corinthians, quando fez dois gols contra o Flamengo, também pelo Campeonato Brasileiro.
Mas será que é esse mesmo o critério?
Acredite se quiser!
Se for assim, o Valter, atacante do Goiás, merece a convocação mais que o Pato. Na terça-feira, também pela disputa do Brasileirão, o “gordinho” Valter fez dois gols contra o Grêmio. Mas seu nome apenas foi lembrado pela torcida: “ão, ão, ão, Tufão é Seleção!” – gritava a torcida esmeraldina.
Mas Pato foi convocado.
E o que é o Pato? Um jogador que apareceu como promessa no Internacional e até hoje, não fez cumprir o prometido. Um jogador sem graça, com uma técnica questionável, com gols raros, e uma falta de criatividade para comemorar os gols. A habilidade do Pato é pagar pensão alimentícia e pegar atriz global. É um Pato mesmo.
A seleção canarinho, que joga amanhã em Brasília contra a Austrália, não tem Hulk e Fred. Oscar também é dúvida, pois, machucou no treino. Sem muitas opções entre os convocados, Felipão montará a seleção no improviso. Diante disso fica a pergunta: o que falta ao R10 para voltar a Seleção Brasileira?
Vou dar umas dicas ao craque do galo:
Primeiro, tenta namorar uma atriz da Globo. Talvez assim, o chatíssimo Galvão Bueno volte a narrar Ronaldinhoooooooooo!!!, quando fizer um gol, pois gol do Pato fica difícil.
Segundo, inventa uma comemoração de gol sem nenhuma criatividade e inteligência, até porque para Pato mão é pata.
Terceiro, não ganhe a Libertadores, pois a Recopa é um título mais importante e mais visto pela imprensa nacional e pelo Felipão.
Quarto, não dê passes de 50 metros, deixando o Jô na cara do gol, porque o Felipão gosta de jogador que fica na banheira, ou na piscina, como o Pato.
E, por fim, quinto, não faça dois gols de falta, colocando a bola na furquilha, porque isso não tem musiquinha do Fantástico, e o Felipão não assina PFC de Minas. A Globo oferece, como patrocínio, apenas o PFC Rio e São Paulo.
É isso, no país do futebol, quem tem Ronaldinho Gaúcho, joga com Pato.

Vou ver o US Open!

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sangue, suor e lágrimas: Copa do Brasil!

Já era hora de falar em futebol. Depois da épica conquista do meu glorioso Clube Atlético Mineiro – Galooooooooooo!!!!! – eis me aqui para dar meus pitacos na Copa do Brasil. Vamos Lá!
Internacional empatou com o Salgueiro e segue na competição. Apesar de ainda não haver harmonia no time colorado que o faça vencer no Campeonato Brasileiro, o time gaúcho passou às quartas-de-final após o empate com o Salgueiro. Que venha a Portela!
Nada disso, para o Inter ainda não é carnaval. Que venha o Furacão, que atropelou o Porco e, na minha opinião, é o time que se consagrará campeão da Copa do Brasil. O Palestra Itália não foi obstáculo ao Atlético Paranaense.
Falando em Palestra Itália!!!
O Cruzeiro ressuscitou um urubu em meio a sua carniça. Com um elenco interessante mas um treinador de time pequeno, o Cruzeiro foi até ao Maracanã com duzentos na zaga, três mil no meio de campo e só um lá na frente. Como os deuses do futebol não agradam de tais oferendas, castigou o time celeste aos 43 minutos do segundo tempo com um gol de Elias, Profeta Elias que vaticinou: AQUI É FLAMENGO!!!!
Falando em termos bíblicos, meu Galo não conseguiu o terceiro milagre (QUE VENHA NO MUNDIAL). Deixou mais uma vez a vaga escapar, na Copa do Brasil, para o Botafogo, time da estrela solitária, ou melhor, dizendo, da meia lua, já que o Vitinho foi embora e apagou a luz.
O Timão enfrentou e passou pelo espetacular Luverdense, time este que havia ganhado a primeira partida com um gol de mão, me fazendo lembrar do também gol de mão de Maradona, na Copa do México, contra a Inglaterra. Agora enfrentará do Grêmio.
O time Gaúcho passou pelos meninos da Vila sem muitos problemas. O Peixe ainda é um time em formação, com talentos promissores, mas não foi suficiente para passar pelo fortíssimo elenco do Grêmio que, depois do Atlético – PR, é o meu segundo palpite ao título.
No planalto central, o gordinho Valter ajudou o Goiás a se classificar às quartas-de-final. O atacante com fome de gol e bolachas, deu assistências que resultaram em gols a favor do time esmeraldino. Já o Fluminense, desclassificado, pensa no projeto 2014, com a ajuda do estrategista Luxemburgo (kkkkkkkk).
Falamos em todos os times e suas situações. Falo agora no Vasco que passou pelo temido Nacional do Amazonas. O jungle team não foi, também, obstáculo, para o explorador vascaíno. Deu Vascão que, logo logo, se despede da Copa do Brasil.
Pelo que se vê dos classificados, promete emoções a Copa do Brasil. De lado deixo, por enquanto, as epopéias a serem desenvolvidas na então competição, para concentrar-me para Marrocos. Bica bicudo!!!!


Jardineiro

O Jardineiro foi se deitar.
Fiquei ainda atento ali na janela observando o Jardim. Ventos sussurravam, ora mais alto ora mais brando. Havia gotejamento, condensação de chuva, também, ora forte ora mais suave.
Logo escureceu, mas nunca tive razão de evitar a noite negra. A observação pela janela para mim era um ofício. Coisas que me acometiam. Claro, até minha mãe chamar ao me avistar sentado na cadeira.

-         Filho, por onde esteve?
-         Mulher, já lhe falei que sempre estou aqui.

Minha mãe sempre insiste nisso, me chamando para o jantar sabendo que estou à janela observando o Jardim. Ela também observa, mas o foco dela sempre sou eu. Coisas de mãe.
Saí, então, da janela, mas meus pensamentos registraram todos os espaços e eventos do Jardim, sendo que, ainda fora da janela, pois é noite, estou presente ao menos em pensamento.
Na mesa do jantar uma refeição que renova as forças de maneira constante. Minha mãe sempre tem esse cuidado. Como um médico cuidando das feridas de um paciente, ela cuida de mim ao colocar a mesa e me ouvir, depois de mais um dia de ofício.

-         Vi o Jardineiro rondando o local onde ficava o pinheiro.
-         Aquele pinheiro está fazendo muita falta para ele, deve ser este o motivo.
-         Sim, mas existe muita coisa no Jardim, conhecida por ele, e ainda muita coisa por conhecer, caso ele estivesse vendo aqui de cima, da janela.
-         Ainda não é hora dele vir aqui. Entenda as razões dele e não admoeste.
-         Não estou admoestando, mas apenas tentando fazer entender.
-         Não há que entender. Havia uma dedicação do Jardineiro àquele pinheiro. E toda dedicação estabelece laços que são difíceis de serem quebrados. Eu também sofreria por sua ausência.
-         Sei disso, mãe. Mas a verdade é que as coisas não se vão. O pinheiro se transforma em outro tipo de vida. Ele não se perde.
-         Mas para o Jardineiro é o pinheiro quem faz sentido. Haver outra espécie de vida para ele não suplantará a dor da perda do pinheiro. – Disse minha mãe e, após me entregou umas sementes, ordenando que eu lançasse lá de minha janela.
-         Sim, mãe, eu lançarei.

Sei sobre dor também. Vejo todos os dias aqui de cima do meu apartamento. Também já vivi e suportei dores. Mas a verdade tudo supera. É isso que deve ser pensado.
Ainda durante o jantar, ouvi o vento batendo forte a minha porta. Sabia de sua presença, mas também não tinha razão de se preocupar com o fenômeno. É próprio da natureza.
Mas esta noite não foi apenas um vento que bateu a porta. Senti uma força superior ao vento trepidar a chancela que separa minha morada e o mundo lá fora. Minha mãe até ficou um pouco surpresa, pois, poucos são aqueles que chegam a bater a porta e pedir entrada. Então, fui até a porta ver o que era.
Quando abri a porta não vi nada, apesar de ter sentido a presença de alguma coisa. Eu sabia o que era. Mas aquele que veio parecia não saber. Encorajei-o a entrar, dizendo:
-Não tenha medo. Pode aparecer. Minha mesa está posta e ali está minha mãe. Esta é minha casa.
Respondeu o visitante:
- Apenas quero ver o Jardineiro.





sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Jardineiro

Não sei o nome desse Jardineiro. O observo há algum tempo. Moro no oitavo andar desde sempre e vejo, lá de cima, o comportamento do Jardineiro.
Ele rotineiramente cuida de plantas e frutas. A área não é muito grande, mas rica em fertilidade e natureza. O esforço do Jardineiro é grande: dá água a vegetação e adubo. Todas elas bem cuidadas.
Existe um arvore grande no meio do Jardim. Tronco forte, já recebeu muitas pancadas, intempéries da natureza. Na arvore existe um fruto lá em cima, no último galho, tão distante que o Jardineiro não consegue ver. Para não dizer que não tem algum contato com o fruto distante, não raramente o Jardineiro grita para ver se o fruto ouve.
Próximo a arvore existe um arbusto ou, para muitos, uma graxa, esse tipo de vegetação que serve, as vezes, de cerca viva. De longe, a graxa parece ser um vegetal que gosta de proteger as outras próximas a ela. É forte também, como a arvore do meio do Jardim. E alegre. O Jardineiro sempre diz isso.
Há umas sete semanas o Jardineiro perdeu sua arvore favorita: era um pinheiro. O pinheiro não era tão alto e não dava frutos, mas impunha pela sua presença, e todos as plantas do Jardim pareciam respeitá-la. Mas o pinheiro era solitário. Distante da arvore e do fruto lá em cima que tinha nesta. A graxa sempre foi distante e quem cuidava do pinheiro era o Jardineiro. Mas como eu disse, observo tudo, lá do oitavo andar, desde sempre. Foi uma chuva torrencial, uma tempestade, que durou quarenta minutos, que arrancou o pinheiro do Jardim. Desde então há um vazio no lugar do pinheiro. O Jardineiro decidiu não plantar nada.
E até abandonou outros vegetais dos quais cuidava há quatro meses. Um pequeno pomar, de novos frutos, dos mais diversos, ele deixou para um amigo, um outro Jardineiro. Este, transformou-se, então, em Jardineiro de Pequenos Pomares. De longe, como eu, o Jardineiro vê seu amigo cuidar do pequeno pomar que por algum tempo cultivou. O terreno era praticamente estéril e revolto. Mas ele semeou. Só não conseguiu colher os frutos. O cansaço tomou conta do Jardineiro. Isso aconteceu lá pelas três e meia da tarde.
Mas o Jardineiro não está sozinho. Ele cuida de uma outra planta há aproximadamente oito meses, quando plantou em seu jardim trazida de outra área vegetal, mais silvestre. Ela é frágil, delicada, e tem que ter muito cuidado ao dar água e adubo. Às vezes o Jardineiro esquece disso, e não cuida tão bem. Mas logo parece recordar do cuidado que deve ter e assim procede. Eu vejo tudo lá do oitavo andar.
A flor delicada fica de frente da arvore grande, e o pinheiro ficava próxima a ela. Para o Jardineiro, em seus pensamentos férteis, parecia que o pinheiro havia adotado a flor delicada, o que fazia o Jardineiro admirar ainda mais o pinheiro.
O Jardineiro não tem muitos amigos. São poucos. Mas o curioso é que todos eles também são Jardineiros. Parece algo misterioso ou uma simples coincidência. Eu sei que não é coincidência. Prefiro o misterioso.
Um dos amigos do Jardineiro é o Jardineiro de Um Pinheiro Só. Ele tinha também um pinheiro. Mas tinha só um pinheiro. Teimoso, não deixou em alguns momentos semear novos frutos. Mas a vida também não deixou que semeasse, pois, o pinheiro que tinha requeria de muitos cuidados. Também em uma chuva, um raio fulminante levou seu pinheiro. O Jardineiro de Um Pinheiro Só ainda cultiva seu jardim. Deita água em seu terreno. Mas não há mais pinheiro. Apenas terra.