Não sei o nome desse Jardineiro. O observo há algum tempo.
Moro no oitavo andar desde sempre e vejo, lá de cima, o comportamento do
Jardineiro.
Ele rotineiramente cuida de
plantas e frutas. A área não é muito grande, mas rica em fertilidade e natureza.
O esforço do Jardineiro é grande: dá água a vegetação e adubo. Todas elas bem
cuidadas.
Existe um arvore grande no meio
do Jardim. Tronco forte, já recebeu muitas pancadas, intempéries da natureza.
Na arvore existe um fruto lá em cima, no último galho, tão distante que o
Jardineiro não consegue ver. Para não dizer que não tem algum contato com o
fruto distante, não raramente o Jardineiro grita para ver se o fruto ouve.
Próximo a arvore existe um
arbusto ou, para muitos, uma graxa, esse tipo de vegetação que serve, as vezes,
de cerca viva. De longe, a graxa parece ser um vegetal que gosta de proteger as
outras próximas a ela. É forte também, como a arvore do meio do Jardim. E
alegre. O Jardineiro sempre diz isso.
Há umas sete semanas o Jardineiro
perdeu sua arvore favorita: era um pinheiro. O pinheiro não era tão alto e não
dava frutos, mas impunha pela sua presença, e todos as plantas do Jardim
pareciam respeitá-la. Mas o pinheiro era solitário. Distante da arvore e do
fruto lá em cima que tinha nesta. A graxa sempre foi distante e quem cuidava do
pinheiro era o Jardineiro. Mas como eu disse, observo tudo, lá do oitavo andar,
desde sempre. Foi uma chuva torrencial, uma tempestade, que durou quarenta
minutos, que arrancou o pinheiro do Jardim. Desde então há um vazio no lugar do
pinheiro. O Jardineiro decidiu não plantar nada.
E até abandonou outros vegetais
dos quais cuidava há quatro meses. Um pequeno pomar, de novos frutos, dos mais
diversos, ele deixou para um amigo, um outro Jardineiro. Este, transformou-se,
então, em Jardineiro de Pequenos Pomares. De longe, como eu, o Jardineiro vê
seu amigo cuidar do pequeno pomar que por algum tempo cultivou. O terreno era
praticamente estéril e revolto. Mas ele semeou. Só não conseguiu colher os
frutos. O cansaço tomou conta do Jardineiro. Isso aconteceu lá pelas três e
meia da tarde.
Mas o Jardineiro não está
sozinho. Ele cuida de uma outra planta há aproximadamente oito meses, quando
plantou em seu jardim trazida de outra área vegetal, mais silvestre. Ela é frágil,
delicada, e tem que ter muito cuidado ao dar água e adubo. Às vezes o
Jardineiro esquece disso, e não cuida tão bem. Mas logo parece recordar do
cuidado que deve ter e assim procede. Eu vejo tudo lá do oitavo andar.
A flor delicada fica de frente da
arvore grande, e o pinheiro ficava próxima a ela. Para o Jardineiro, em seus
pensamentos férteis, parecia que o pinheiro havia adotado a flor delicada, o
que fazia o Jardineiro admirar ainda mais o pinheiro.
O Jardineiro não tem muitos
amigos. São poucos. Mas o curioso é que todos eles também são Jardineiros.
Parece algo misterioso ou uma simples coincidência. Eu sei que não é
coincidência. Prefiro o misterioso.
Um dos amigos do Jardineiro é o Jardineiro de Um
Pinheiro Só. Ele tinha também um pinheiro. Mas tinha só um pinheiro. Teimoso,
não deixou em alguns momentos semear novos frutos. Mas a vida também não deixou
que semeasse, pois, o pinheiro que tinha requeria de muitos cuidados. Também em
uma chuva, um raio fulminante levou seu pinheiro. O Jardineiro de Um Pinheiro
Só ainda cultiva seu jardim. Deita água em seu terreno. Mas não há mais
pinheiro. Apenas terra.
Texto O Jardineiro é composto de quatro outros textos, a serem publicados semanalmente.
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